Le Monde Bizarre – O circo dos horrores
Onde está o feio? Volta a crítica do grotesco.
Vários Autores
Ilustração de Capa:
Chris Harvey
Arte da Capa e
Diagramação: M. D. Amado
Ilustrações
Internas: Christophe Boisson,
Bahnean Teodor
Andrei, Chirs Harvey e
Charmed by Jessica
Fotos: Konradbak e Cristian
Nitu
Revisão: Celly
Borges
Editor Responsável: M. D.
Amado
Circo, desde sempre, tem no
imaginário das pessoas o significado de fascínio e também de horror, o que não
é, necessariamente, uma ambiguidade. Por ai, há inúmeras pessoas que quando crianças
tinham medo de palhaços, e também a crença de que, por trás das lonas, todo
tipo de regras poderiam ser quebradas em uma vida cigana e lúdica. Mas, grandes
companhias circenses são reconhecidas pelo excesso de disciplina de seus
acrobatas, como o Circo de Soleil, o que, para eles, pode ser um misto de fortificação e crueldade. Assim, o circo parece ser sempre um mundo à ser apreciado, mas nunca, conhecido. E é um tanto isso que acontece nesta antologia, onde bastidores promovem um
reencontro entre pesadelos macabros e sonhos doces como bailarinas.
No início, o organizador M. D.
Amado cria a companhia com alguns detalhes a serem seguidos pelos escritores
que viriam a submeter seus textos à seleção, como o dono da companhia Monsieur
Serge Tissot, porém sem nada que amarrasse a possibilidade criativa dos autores, e é
exatamente esta criatividade o carro chefe dessa trupe.
Um conto após outro, me
surpreendi com as variedades possíveis, desde lugares, personagens principais,
tramas e conceitos entre aquele que é mal ou bom, e também claro, com as
diferentes “criaturas”, “aberrações” ou simples humanos, que vivem ou viveram
seus dias em tão misteriosa e onírica trupe.
O prefácio, curto e direto,
está por conta de Medo B, mantenedor de um espaço horripilante na internet conhecido como medob.blogspot.com.br. Ele então fala sobre a principal sensação que deve lhe
causar a leitura, o próprio medo, e sem muitas delongas, nos deixa por nossa conta e risco na leitura.
E agora, vamos aos contos.
Inicialmente, Kássia Neves,
parece reescrever passos de Mary Schelley, pelo jeito eloquente de seu
personagem principal, que demonstra mais sensibilidade do que se esperaria
diante sua aparência. Aqui, repete-se o aviso de “cuidado” junto ao retorno ao
nascimento da companhia. Em “À Cidade de Metrópia” há quase um nova apresentação porém, com muito mais sangue e horror.
Duda Falcão, em “Desfile” traz
no início de seu conto, uma verdadeira caravana da fantasia, feito uma
apresentação rápida de um espetáculo de comédia dell’arte, colorido e
fascinante, porém, com um toque de bufão, forte e sarcástico. Seu melhor fica por conta do mistério e do que não foi dito, nos deixando à deriva do mal promovido pela companhia.
“Freak”, é narrado bem
costumeiramente à forma circense, contando uma história do palanque, sobre um assombroso causo. Alexandre Heredia (autor convidado) fala muito
pouco, ou quase nada, sobre a companhia, mas nos faz imaginar que nós,
leitores, estamos lá, por debaixo das lonas (coloridas ou não) de frente a
aquele que nos dirige a palavra. Um conto para quem precisa de estomago forte.
“Sinfonia dos Mortos”, apesar
de um elemento bastante óbvio logo no início do conto, ganhou-me por completo
com seu ar de pesadelo e tem um final que não é, em nada, parecido com o que eu
esperava. Ele é simples, belo, horrível, me lembra os quadro de René Magritte
(meu pintor favorito), porém, modeladas no desespero e na escuridão. Pedro
Almada, criou ótimas imagens e saiu-se muito bem. (Um dos meus contos favoritos).
Celly Borges, com “Jackie”
traz uma história rápida, a base de inocência e violência. Aqui, outra criança
reina, louca e doce costurada feito uma boneca de pano, à quem falta algo
muito, muito especial. Um retorno a um mito do horror em um momento rotineiro da cia.
“Medicina Transformadora” de
Valentina Silva Ferreira, traz um novo elemento às horripilantes atrocidades do
circo. Ela toca em algo muito sério, que pode até passar desapercebido, quando
refere-se à ética médica. Aqui, Tissot além de cruel e ambicioso, é vingativo.
Um conto também veloz e cheio de tortura e sem medidas para o ódio.
Lucas Lourenço, com seu texto
“O Garoto de Ferro” altera a formação do circo, e mostra, por mais de um
elemento, que o feio, o cruel, e o horrível é parte do coração do homem, e não
de pessoas deformadas, ou não humanas. Apesar de toda violência que há na
história, ela tem uma passagem leve, que diz mas não diz, revelando em meias
palavras e nos fazendo engolir em seco a crueldade. Aqui sim, o circo é um
lugar onde o colorido realmente é mágico e as manchas de sangue que esconde,
são... outras. Um conto lindo. (Meu segundo favorito).
“O Maior Espetáculo da Terra
dos Mortos” parece surgir em meio a brumas e neblina. E sabendo que o autor
Rochett Tavares é fã de Lovecraft, ficou claro as influências em alguns
momentos. Neste enredo, inclusive, a companhia passa por um lugar mais sombrio
que ela mesma, e tudo parece saltar aos olhos. Medo e curiosidade guiam a
leitura todo o tempo, causando náuseas e calafrios. Eu realmente mergulhei nessa história e entrei no cenário inóspito. (Outro conto favorito).
E depois, seguindo ainda pela
trilha do inesperado em terras longínquas, Iam Godoy (autor convidado) nos leva
para uma história cheia de horror visual, com direito a sustos, caveiras, ossos
e uma pausa para a trupe de Le Monde Bizarre. Com o forte no cenário, "Sake em Aokigahara" traz
uma caneca cheia de repúdio e incredulidade. Personages cheios de espiritualidade (mesmo que negativa) e falas bem trabalhadas. Outro que precisa de estômago forte e promete sustos.
Em seguida, como prova da
supremacia do circo, temos o conto “Pesadelo Interminável” de João Regaciano que traz outro ponto de vista de fora do circo. Com cenários cheios de detalhes e emoção, ele nos leva por atrocidades e carneficina além de trabalhar as sensações do personagem, e momentos de angústia.
“Remendos de Carne” tem o
misto de dois ingredientes poderosos, um que vemos nos telejornais todo o
tempo, e o outro, o fantástico, que é descrito com detalhes e beleza de uma
peça de teatro sendo encenada. Aqui, o circo fica em segundo plano, mas não
deixa de estar presente. Um conto forte, mas na medida certa para, inclusive,
nos surpreender. Rafael Sales, criou cenas caprichadas no começo, e liga pontos diferentes de uma história que clama por justiça.
Firmando que o mistério é tão importante quando crueldade, aqui há um conto onde os protagonistas não estão sob os holofotes, e sim, do
lado de fora. Ao ler “O Trailer” senti-me como assistindo um filme, com
personagens muito bem construídos e cheios de veracidade. O que manda aqui é o
suspense, e não o sangue derramado. A. Z. Cordenonsi fez diferente, e com
sucesso, em uma história que também nos tira umas risadas.
E como as elucubrações sobre Serge
Tissot parecem não ter fim, elas ganharam de verdade o imaginário dos autores. G.
Araujo, criou outra forma de prolongar a vida deste personagem em “Faça Seu
Pedido”. A escrita é rápida, e tudo acontece bem amarrado e de maneira
crescente. Um conto com bastante ironia (do destino) e com uma linha um tanto
comum para conduzir o enredo. Tudo tornou o trama leve e quase divertida.
M. D. Amado encerra o livro
com seu conto “O Ocupante do Carro Vermelho”, com boas dosadas de sangue e vísceras,
também sugerido para os de estômago forte, e claro, com o humor já costumeiro
das escritas dele. Com surpresas e uma ambientação cheia de ironia o conto flui
tranquilamente e repleto de bons absurdos que descontraem o clima denso e
bastante perverso da obra. E nem tudo, é o que parece.
No final, respeitável público,
Le Monde Bizarre é sim um livro repleto de sangue, crueldade e cenas horríveis, porém, com bons traços de comicidade. De todos as antologias que li
(não que tenham sido muitas) esse foi, sem dúvida, o que mais facilmente
devorei. Ele saí do costumeiro horror e parte para trilhas de bizarrices e,
muitas vezes, de crítica.
De uma maneira geral, e que me
deixou muito feliz, é que os autores em nenhum momento fizeram com que os
personagens mais fora do comum (sendo eles alienígenas ou apenas pessoas geradas com alguma
deformação) viessem a se tornar os vilões da obra. O questionamento do que realmente é o feio,
ficou latente em muitos contos, sendo a ambição o principal fio condutor desses
tiranos, desde a que segue por dinheiro, por poder, ou vida eterna.
Também fiquei muito contente
em ver a variedade de cenários que os autores exploraram, alguns, deixando
claro bagagem e pesquisa (como Rochett Tavares e Iam Godoy) e outros, de uma
forma mais pessoal e bairrista (como M. D. Amado). Foi muito boa a experiência
como leitora, de ir com esse circo para diferentes lugares do globo, e em
outros momentos, acreditar que a trupe poderia estar na cidade ao lado.
Além de tudo isto, o livro
tornou-se atemporal e místico, e vai muito além da sinopse ou apresentação.
Mais sobre o livro e onde comprar:
AMEIIIIIIIIII
ResponderExcluirVou comprar!!!
Comprei INSANAS e ainda não consegui ler pq meu noivo passou primeiro pela minha estante, mas ele está adorando!
Tenho certeza que esse está no mesmo nível. E vamos gostar sim!!
Bjkas
Alessandra, sou suspeita para falar do Insanas (mesmo tendo resenhado) pois participo desse projeto.
ExcluirAgora, o Le Monde Bizarre é muito bom mesmo. Vale a pena!
Beijão.
Gostei bastante da resenha que fez ao livro e em especial ao meu conto "Pesadelo Interminável".
ResponderExcluirUm abraço,
João Rogaciano
Fico contente que tenha gostado. E espero ler outras publicações suas.
ExcluirParabéns.
Abraços.
Muito obrigado pela resenha, Carol!
ResponderExcluirQue bom que gostou do conto... Abs!
Oi, Carol!
ResponderExcluirQue bom que gostou de Sinfonia dos Mortos! Foi minha primeira publicação, e me senti honrado em poder iniciar logo com a Ed. Estronho. Mais honrado ainda em ver que foi um dos seus favoritos! Obrigado mesmo xD
Um grande abraço, e sucesso!
Pedro Almada
Olá Carolina!
ResponderExcluirFico feliz que tenha gostado do meu "pensamento divergente" quanto à coleção. As tias matronas do pobre rapaz são divertidas mesmo e acho que atingiram o objetivo. Abraços e sucesso no blog.
A.Z. Cordenonsi
Oi, Carolina! Bela resenha. O Le Monde tem contos ótimos! Foi muito legal participar desse projeto da Estronho! Um abraço!
ResponderExcluirObrigado pela sua resenha, Carolina.
ResponderExcluirUm grande abraço.