À Sombra do Corvo - Poesias Sombrias



Túmulo este teu que toma, em tenebrosos tentáculos, troca por ternuras todos os teus
medos que mediaram minhas músicas e, de mútuos martírios, Minervas e musas.”
*trecho do poema “Amor pós Morte”, de minha autoria contido no livro.

 À Sombra do Corvo é uma antologia de poesias sombrias organizada pelo selo Estronho e pela editora Literata que reuniu escritores concorrentes e convidados em um trabalho extremamente cuidadoso, rico plasticamente e liricamente.

O Lançamento foi realizado em 20 de novembro de 2011 no Jedicon (evento realizado na Fapcon, Vila Mariana – São Paulo) junto com mais dois lançamentos do selo Estronho, “Histórias Fantásticas Vol. 01” e “Estraneus Vol 01 – Medieval Sci-Fi”.

O evento em si contava com diferentes atrações, mas em questões literárias não deixou a desejar, ao lado (e realmente ao lado) do selo estronho, se podia adquirir o Livro Lázarus, da escritora Georgette Silen e também Kaori - Perfume de Vampira da escritora Giulia Moon, entre outros incrivelmente bons também.
Por volta das 14h00 tivemos uma troca de autógrafos que foi muito prazerosa e divertida. Onde tive o prazer de gravar na memória algumas carinhas poéticas.

Mesmo sendo um livro de poesias (não pejorativamente, mas de modo que normalmente só poetas consomem poesia), a aceitação foi muito boa onde só obtivemos comentários positivos e incentivo. E confesso que é muito bom ver gente escrevendo poesia sombria e de qualidade.

O trabalho de M. D. Amado – organizador - se mostra sempre surpreendente, dotado de uma grande dedicação que só com o livro em mãos é possível perceber e entender completamente. Páginas com a aparência envelhecida, descrição de cada autor e outras páginas pretas trazem para o campo palpável e concreto o espírito da obra, uma verdadeira obra de arte.
Alessandro Reiffer, do blog Arte do Fim é um dos corvos escritores e também prefaciador, e por sinal registrou um prefacio belíssimo e forte:

“ (...)Valem (referindo-se às poesias) para todos os homens e para todos os tempos. E valem ainda mais para o nosso tempo. Porque o homem não muda. Porque no homem há mais sombras do que luzes. E porque em nossos tempos atuais nada seja mais atual que a sombra.(...)”
*trecho do prefácio retirado do livro. Pág 5.

A Editora Estronho deixa disponível em seu site um arquivo em PDF para degustação.
Como o livro é vendido via internet, o que diminui os custos e muito para o comprador final, é possível baixar um arquivo com duas lindas poesias de Nine e Tânia Souza, e ter uma pequena mostra também da maravilha plástica desse trabalho.

Também é muito valido dizer e melhor ainda conferir. Aconteceu um segundo lançamento da antologia na cidade de Santarém, em Portugal, graças à Miguel Raimundo, um dos participantes da antologia que é de nacionalidade portuguesa.

Assim, posso dizer o quanto me senti honrada e feliz por entrar nessa antologia, e quão grande e valiosos não foram os momentos em que recebi o email confirmando que era uma das selecionadas e depois no lançamento com o livro em mãos.
“À Sombra do Corvo”, falando muito pessoalmente agora, representa para mim o retorno e reafirmação de um caminho, como também suas portas sendo abertas. É graças a essa antologia que voltei a escrever do fundo de minhas entranhas, sendo mais que coração e alma.

Para encerrar, como é bem sincera a homenagem ao eterno Poe, segue ele, o titânico e belíssimo:

O CORVO

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.

"Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais."

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,

Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.

É só isto, e nada mais".

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.

Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.

Isso só e nada mais.

Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.

"É o vento, e nada mais."

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,

Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."

Disse o corvo, "Nunca mais".

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,

Com o nome "Nunca mais".

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".

Disse o corvo, "Nunca mais".

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais

Era este "Nunca mais".

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,

Com aquele "Nunca mais".

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,

Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"

Disse o corvo, "Nunca mais".

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!

*De Edgar Allan Poe e tradução de Fernando Pessoa.

Comentários

  1. A honra é minha de publicar textos de sua autoria. Sou seu fã e ponto final!

    Beijos!

    ResponderExcluir
  2. SER MULHER

    Ah, ser mulher!

    Ser mulher é ver o mundo com doçura,
    É admirar a beleza da vida com romantismo.
    É desejar o indesejável.
    É buscar o impossível.

    O poder de uma mulher está em seu instinto
    Porque a mulher tem o dom de ter um filho,
    E cuidar de vários outros filhos que não são seus.

    Ah, as mulheres!
    Ainda que sensíveis
    Mulheres conseguem ser extremamente fortes
    Mesmo quando todos pensam que não há mais forças.

    Mulheres cuidam de feridas e feridos
    E sabem que um beijo e um abraço
    Podem salvar uma vida,
    Ou curar um coração partido.

    Mulheres são vaidosas,
    Mas não deixam que suas vaidades
    Suplantem seus ideais.

    Muitas mulheres mudaram o rumo
    E a história da humanidade
    Transformando o mundo
    Em um lugar melhor.

    A mulher tem a graça de tornar a vida alegre e colorida,
    E ela pode fazer tudo isto quantas vezes quiser
    Ser mulher é gostar de ser mulher
    E ser indiscutivelmente feliz
    E orgulhosa por isso.

    - Brunna Paese -

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas